Lendo...

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Olá meus corujitos, hoje venho com outra entrevista, vamos conferir?!

Como percebeu que o seu destino era escrever, Mario?
Priscila. Nossa! O meu destino... Destino, uma palavra solene. Deixe me ver. Lembro-me que quando era garoto escrevi uns contos e (você não vai acreditar!) uma peça de teatro. O fiz por puro prazer e vontade de escrever. Guardei os numa caixa de camisa e um dia numa dessas avassaladoras limpezas que o Homo sapiens faz, lá na minha casa, foi tudo para o ar. Literalmente quando vi minha peça de teatro tinha terminado... de existir. 

Não diga. Que pena. E quais os passatempos que te levaram a querer contar histórias?
A vontade de contar histórias se não nasceu comigo, baixou em mim logo depois e foi estimulada pelos meus avôs! Eles vieram do sul de São Paulo com uma passagem pelo norte do Paraná em meio de uma verdadeira Odisseia com passagens impressionantes, duras. E, principalmente minha avó contava tudo com cores, fogo e sangue! Priscila você tinha que ouvir minha avó contando um bom “causo” de assombração, também. Uma mestra.

Bem e de onde vêm os personagens? São baseados em pessoas reais ou fatos?
Personagens? Ótima pergunta Priscila. Os meus personagens vêm de pelo menos três fontes. Uma. Das circunstâncias que me envolvem e para explicá-las uso as crônicas e reescrevo mitologia - que não conheço bem, mas gosto muito de ler. Um exemplo é a divina Ella, minha sereia com a qual comecei uma amizade em São Francisco do Sul quando eu estava lá terminando o Amor Maior. Ella – como uma boa sereia – só fala comigo, tá. Outra fonte são pessoas que conheço e acompanho suas vidas e o como elas decidem frente ao grande desafio da vida. Priscila, as pessoas agem frente ao desafio e criam fatos e eles têm implicações! E, os mais interessantes personagem que tenho aparecem nas histórias de vida que ouço com a beleza da interpretação daqueles que as contam! Uso a minha intuição também. Você nem imagina como a intuição é importante!

Qual o primeiro livro que te inspirou/incentivou a escrever?
O primeiro livro? Do grande, o fascinante Monteiro Lobato! Depois revistas e após disso passei uma fase que li tanto que fiquei doente. Sarei e decidi ler menos e me aventurar mais! Eu já tinha uns 18 anos neste ponto! Mais tarde logo depois que me formei em odonto fiz quase um ano de Filosofia Pura para “me manter pensando” e devorei os pensamentos de alguns filósofos como Bertrand Russel e outros. Também li alguns livros sobre a História da Filosofia. Parei a filosofia para começar a clínica em odonto. 

Incrível. Mario, um personagem favorito. Por quê?
São dois personagens favoritos. Um deles é o universal Riobaldo, atirador itinerante do sertão que de jagunço virou fazendeiro e viveu no seu mundo, o Sertão e seus caminhos com espírito de aprender e lutar duro. A maravilha inigualável de João Guimarães Rosa: O GRANDE SERTÃO: VEREDAS. A Odisséia brasileira tão importante quanto à dos clássicos gregos. Outro é Sinuhe O EGíPCIO, de Mika Waltari. Recém nascido Sinuhe foi colocado num barco de verga no Nilo e criado por um casal egípcio. Depois se tornou médico como o pai e participou de uma época chave na história do Egito. Toda a vida dele está magistralmente colocada em momentos. Como a de Riobaldo. 

O que te inspira na hora de escrever? Um lugar, um filme, uma música...
Priscila... Você não vai acreditar, mas o que me ajuda muito a escrever é o silêncio, o estar só e escrevendo... só. Por isso na fase final de um livro eu saio me enfio em algum lugar – São Francisco do Sul um exemplo – e escrevo horas, me esqueço de comer e caminho bastante! Caminhar e escrever tem muito em comum.

O que mais gosta nas suas próprias histórias?
Gosto muito quando consigo ser natural e descrever uma cena, um pensamento de um modo mais simples e criativo ou quando consigo passar um princípio de vida.

O que mudou na sua vida após começar a escrever?
Algo mudou sim. Nem sei direito. Mas me sinto mais organizado, mais dono do meu tempo e com uma sensibilidade mais acurada na arte de observar, ver e procurar me colocar na pele da pessoa ou coisa observada. Um dia numa das minhas caminhadas urbanas vi um carrinheiro. Um senhor simpático, alto, magro. Alguma semelhança com o meu avô. Passei por ele e observei que no seu carrinho havia pouca coisa e uma mesa com uma perna quebrada. Espontaneamente dei um dinheiro para ele tomar um café e começamos um papo que durou quase duas horas. Ele me contou o seu dia andando por Curitiba catando coisas que poderiam ser vendáveis e falou sobre aspectos da cidade que eu não tinha observado. Desta conversa surgiu o conto O DESCANSO DO HOMEM que foi também o nome do meu primeiro livro. 

Pretende continuar escrevendo, Mario?
Como você falou logo no começo é o destino e com ele eu não discuto. E sempre continuamos, todos nós.

Como é a sua relação com os leitores?
Tenho poucos e bons leitores. Mantenho um bom diálogo com alguns por e-mail ou mesmo pessoalmente. Discutimos. Gosto de sugestões e críticas construtivas. Quero sempre saber se ajudei, comuniquei... e, principalmente, o que foi que ficou. Uma relação agradável que nem precisa ser discutida. Sabe que o discutir a relação é uma coisa muito chata. Priscila, muito obrigado pelas perguntas. Nada como um bom papo. Vou te contar o meu foco sobre o escrever. Sabe que o exercício de criar histórias expondo conceitos ajuda a pensar. Neste processo de pensamento o mais importante até do que as respostas são as PERGUNTAS NOVAS que vislumbramos! Um bom aventureiro no mundo de hoje necessita de perguntas novas como de ar! Deixo com você o coração de todas as VEREDAS DO GRANDE SERTÃO, desenhado pela vida do Riobaldo o jagunço atirador na suas andanças e luta contra a morte:
“Serras que se vão saindo para destapar outras serras. Tem de todas as coisas. Vivendo se aprende; mas o que se aprende, mais, é só fazer outras maiores perguntas.” Guimarães Rosa
Um abraço!

Espero que tenham gostado!
Um beijo
Priscila Domingues



11 Comentários

  1. Poxa uma pena o que aconteceu com a peça :/ eu escrevo uns textos, e sou que nem ele: preciso estar sozinha e de silencio total!

    Um beijo
    http://escolhasliterarias.blogspot.com.br/

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  2. Muito bom a entrevista Pri! E acho que é a primeira vez que entro no seu blog, ele é uma gracinha, a sua cara! Eu achei bem bacana o relacionamento dele com os leitores, é tão bom quando somos ouvidos e levados em consideração né! Parabéns ao autor!

    Beijão querida!
    Michelle Boyd
    The Little Things

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    1. Venha mais vezes Miii!!
      Seja bem vinda!
      Que bom que gostou do meu cantinho!!

      Sim, é muito bom quando os autores nos respondem !!
      beijoss!

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  3. Adorei a entrevista! bjs da filha do Mario!

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  4. Boa noite! Priscila que blog bonito! Que bom que você tomou esta iniciativa de me fazer perguntas. Ajudou a pensar, rever, lembrar. Contar histórias tem muito a ver com o como caminhamos por elas. Que especial ver logo acima a minha filha Lê por aqui. Um grande abraço a todos. Muito obrigado.

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    1. Sr. Mario, uma honra tê-lo aqui neste humilde blog, sinta-se a vontade para voltar!! Foi um prazer entrevistá-lo!!

      Beijos!

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  5. Priscila ! ! ! Você é mesmo muito boa de perguntas.Gostei de ver o capitão expressando seus sentimentos literários. Á você eu desejo que faça ainda mais perguntas. E ao Capitão que faça mais caminhadas para apurar ainda mais a sua sensibilidade literária. A Nós eu desejo que Deus maestrie... Quem desafinar - retome a música.
    Capitão! obrigado pela tua ousadia e pela liberdade desafiadora naquilo que escreves.
    Um grande abraço
    do amigo
    Paulo Bernardino

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    1. Eu que agradeço a honra de tê-los neste humilde blog!!
      Volte sempre!!

      Beijos!

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  6. Otima entrevista!! O Mário e demais!

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